Enfrentamento da situação, com apoio de entes queridos, é a melhor saída
“O adoecimento diante do luto acontece quando são notórios os prejuízos sociais, familiares e até profissionais, seja em razão da tristeza, desânimo, perda do prazer ou do interesse por atividades habituais, além da ansiedade, irritabilidade, pensamentos negativos, alterações do sono, do apetite e a concentração. Diante destes sintomas, é imprescindível a procura por uma atenção especializada”, alerta a psicóloga da Secretaria de Estado da Saúde (Sesau), Morgana Melo, ao enfatizar que, nesta quinta-feira (2), Dia de Finados, o assunto vem à tona com maior ênfase.
Mas, de acordo com a profissional, “o luto faz parte da vida, entretanto, a vida não se resume ao luto”. Apesar de não existir estatísticas atuais que revelem os níveis dessa problemática, a psicóloga da Sesau referencia os 59 Centros de Atenção Psicossocial (Caps), espalhados por toda Alagoas, para assistência às pessoas que têm dificuldade de lidar com o luto. No entanto, Morgana Melo reforça que o ambiente de convívio daquele que não consegue superar o luto é o melhor suporte nessas situações, ou seja, o convívio com a família.
“É importante atentar que todos precisam de atenção em momentos de luto, mas, as crianças, mesmo sem entender o que está acontecendo, sentem a perda e a experiência é levada para toda sua vida. Assim, não é aconselhável fingir que nada está acontecendo, é preciso que elas sejam orientadas e observadas, afastando delas qualquer situação de desespero, desamparo ou outras reações que assustam”, previne a psicóloga da Sesau.
Constatação
Situação vivenciada pela servidora pública Débora Félix Silva, de 45 anos, que perdeu o filho adotivo, Adriano Souza Napoleão, no último dia 3 de outubro, após lutar contra um câncer agressivo nos testículos. Para ela, saber que a vida continua é primordial. Ela salienta que a fé ajuda na recuperação espiritual, mas o desejo deve emergir de dentro daquele que sente a dor da perda.
“Quando ele esteve vivo, eu acreditava que, enquanto houvesse vida, havia esperança. Após a morte, no início eu chorei muito, mas sabia que precisava aceitar e lidar com a realidade da morte. Não ajuda pedir para não chorar, dizer que o tempo vai passar. Essas posturas não amparam; somente o diálogo, o aconselhamento de um amigo, o apoio da família são capazes de nos consolar”, destacou Débora Félix Silva.
Emocionada, ela recorda que encontrou o filho adotivo enquanto caminhava e se deparou com ele aos cinco aninhos, já trabalhando na rua. A reação mais humana de quem se depara com uma criança na rua é se sensibilizar e procurar saber o porquê do menor viver naquela condição. Foi assim que iniciou a história da servidora pública e de Adriano Souza Napoleão, que após esse encontro, ficaram juntos até a morte os separarem.
“Quando o vi, me chamou muita atenção. Então começamos a conversar e daí surgiu uma amizade muito bonita. Nesses diálogos, ele me mostrou que tinha um carocinho nos testículos que o incomodava muito. O levei ao médico, que após os exames diagnosticou o câncer. O primeiro tratamento dele foi aqui, em Maceió, em um hospital credenciado ao Sistema Único de Saúde. Ficou bom, mas infelizmente não por muito tempo”, recordou a mamãe de coração.
Engana-se quem imagina que Débora fez tudo isso sem ter filhos biológicos. Divorciada, ela é mãe de um casal, Emanuelle Felix Silva e Vivekananda Francisco da Silva Filho (hoje com 28 e 29 anos, respectivamente). Na época eles também ficaram sensibilizados com a situação do irmão adotivo e deram total apoio durante todo o período de busca pela cura.
“O Adriano não quis mais voltar para os seus pais biológicos, então eles cederam à guarda para mim. Foram oito anos visitando hospitais, internações, procedimentos invasivos e dolorosos. Entretanto, ele nunca reclamava a Deus pela situação. Ele escreveu muitas cartinhas e, em uma delas, disse que não tinha medo de morrer. As únicas coisas que iria sentir falta eram do meu sorriso e dos meus cabelos vermelhos. Para nós, ele foi um anjo”, disse a servidora pública.
Durante a batalha pela vida do filho adotivo, ela conta que descobriu estar com câncer de mama, em uma campanha que teve no Rio de Janeiro. “Como ele sabia que eu não gosto de médico, colocou meu nome para fazer mamografia. Graças ao interesse dele, descobri o carcinoma ductal no nível dois, fase inicial, na mama direita. Até o momento não precisei de quimioterapia, nem radioterapia. A médica decidiu retirar o seio como prevenção e agora faço exames na mama esquerda periodicamente”, conclui Débora.
Ela diz viver o luto “abastecida pela força deixada pelo filho, que tem sido o diferencial no enfrentamento contra o câncer de mama”. E admite que “todos se preparam para tudo nessa vida, mas nunca para lidar com a perda e com a morte”, confidencia a mãe de Adriano, quando questionada sobre como está enfrentando o luto.
Fonte: assessoria
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