Rio São Francisco: soluções possíveis

Uma comissão formada por representantes técnicos e políticos de Alagoas, Sergipe, Pernambuco e Bahia irão planejar, a partir de agora, ações contínuas que resultem na revitalização do Rio São Francisco.  A iniciativa foi definida ontem, após a palestra do pesquisador João Suassuma – um dos maiores pesquisadores do país sobre o assunto -, que ocorreu na sede da AMA, em Maceió, em uma iniciativa do prefeito de Traipu, Eduardo Tavares.
“Temos que sair da discussão e fazer algo prático para reduzir a gravidade da baixa vazão do São Francisco, que, hoje, é de 500 metros cúbicos por segundo. A situação é tão grave que, em alguns trechos, é possível atravessar caminhando. Em minha avaliação, nosso Velho Chico está prestes a morrer”, declarou Eduardo Tavares.
Ele ressaltou a importância da formação dessa frente de trabalho, para que ações políticas possam ser realizadas com a maior brevidade possível. “Precisamos nos unir para levar essa proposta para frente. Não importa a forma, mas precisamos encontrar alternativas eficientes para salvar o Rio São Francisco. Agora, com a participação e o empenho do governador Renan Filho junto a essa comissão sinto-me mais confiante”, disse.
Em Alagoas, 11 municípios são ribeirinhos e dependem diretamente do rio. Outros 40 integram a bacia e dependem das águas do São Francisco para o abastecimento. No último dia 4, o Rio São Francisco completou 516 anos, mas pouco tem o que comemorar. Na sua descoberta o volume era de 11 mil metros cúbicos por segundo, e hoje é de apenas 550 metros cúbicos por segundo.
Para o engenheiro João Suassuna, pesquisador da Fundação Joaquim Nabuco, a situação é grave e se não tiver uma ação ágil e integrada desses municípios, o rio não vai chegar em lugar nenhum.
Em sua palestra, Suassuna se pronunciou contrário a transposição do Velho Chico. De acordo com ele, isso provocará, dentre outros malefícios, na morte de várias espécies, que não conseguirão migrar. “A vontade política não pode se manter acima da capacidade técnica”, avaliou, acrescentando: “Nós estamos passando por seis anos de seca consecutiva e a falta de gestão do recurso hídrico tem agravado e muito essa situação. Temos que partir primeiro para promover uma revitalização de toda Bacia do São Francisco e uma das iniciativas é cuidar do reflorestamento e da qualidade das águas para futuramente contar com volumes adequados e uma água de boa qualidade. Se não fizer isso agora, nós vamos contar com um Rio que está praticamente morto”, afirmou o especialista durante apresentação aos prefeitos. Ele acrescentou, em resposta aos questionamentos da reunião, que não existe uma solução mágica sem chuva e um plano de manejo adequado nos reservatórios.
Para o presidente da AMA, Hugo Wanderley, o assunto não interessa apenas aos municípios ribeirinhos. “Muito importante essa iniciativa trazida através do prefeito Eduardo Tavares, que é um grande defensor do Rio São Francisco, um rio de fundamental importância econômica, social do Estado de Alagoas e que passa por uma situação alarmante. O governador Renan Filho, na comemoração dos 200 anos de Alagoas, fez um passeio pelo Rio, no qual eu pude estar presente. Nós podemos constatar a grave situação. Temos que, urgentemente, que tomar alguma atitude para manter a vitalidade desse Rio”, alertou o presidente.
Contrário à transposição do Rio São Francisco, o prefeito Eduardo Tavares lembrou que luta pela revitalização há 20 anos. “A situação é muito grave. Precisamos de ajuda, precisamos de ouvir os técnicos e precisamos sobretudo de atitude. Eu não tenho encontrado atitudes de ninguém no sentido de salvar o rio. Eu tenho encontrado preocupação de levar água para o sertão da Paraíba, do Ceará, eu tenho escutado outras preocupações, mas em salvar o rio são Francisco não vejo. É preciso que nós tenhamos, a partir de hoje, a convicção: ou nos salvamos o são Francisco ou vai todo mundo morrer de sede mesmo e o desastre é definitivo”, alertou.
Também participaram do debate o deputado estadual, Rodrigo Cunha, a promotora Lavínia Fragoso do Ministério Público Estadual de Alagoas, Gustavo Lopes, presidente do Instituto do Meio Ambiente de Alagoas, Marcelo Fragoso, representante do Comitê da Bacia do Rio São Francisco, o vice-presidente de Operações da Casal, Francisco Beltrão, Elizabeth Freire, prefeita de Gararu, em Sergipe, além de vereadores, técnicos e pesquisadores.
 

Fonte: Assessoria

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